quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Ele


O  outono a fazia lembrar de antigos amores, ou melhor do fim de antigos amores, aqueles que começam no calor e que não resistem às primeiras brisas geladas...e ela sabia que este não era diferente, deitada ao lado dele, olhando a claridade que amanhecia no quarto. Ele dormia, o corpo magro deitado de costas, dormia o sono embalado pelo vinho da noite anterior, um vinho barato que ele comprou no mercado a caminho de casa. Ela sabia que o relacionamento estava no fim, ela sentia as mesmas inquietações de outras vezes, ela sabia que ele ia terminar com ela, talvez não hoje, amanhã, semana que vem... ela podia terminar isso logo, levantar, vestir-se e sair sem falar nada, ele talvez nem notasse, talvez sentisse falta... acharia estranho, quem sabe ela se tornaria misteriosa, despertaria nele um novo interesse. Mas não, ela se levantou e foi até o banheiro, ficou lá por algum tempo pensando, invadida por uma espécie de tédio desconfortável. Voltou ao quarto e decidida começou a arrumar suas coisas, não ia sair furtivamente, iria dar um até logo e seguiria sozinha para sua casa, sem explicações, talvez em casa a sensação de sufocamento, de ansiedade passasse. Ele ligasse a querendo de volta.

Ela está de costas para ele, ouve ele se mexer, vira-se e ele está sentado na cama, acordando, pergunta onde ela vai?
- para casa.

- aconteceu alguma coisa?

- não, nada, vou para casa ver umas coisas.
- que coisas? Espera, vamos tomar café primeiro.

Ela pensou, está bem, mais um café juntos. Ele se levantou e foi ao banheiro, ela terminou de se vestir e deixou as coisas que trouxera na véspera arrumadas, prontas para a partida. Eles saíram para tomar café na cafeteria próxima, ela estava sem fome, só quis café, pouco leite, ele pegou o jornal, ficaram assim, sentados à mesa junto à janela, frente a frente, uma vida de distância. As pessoas passavam na calçada, ela perdeu-se olhando o ir e vir lá fora, o dia estava ensolarado mas frio. Ela não pensava nada, só observando quem passava, entrava e saía da cafeteria. Ela não via seus rostos e suas roupas se misturavam, nas cores escuras de roupas de inverno. Era uma terça-feira, depois de um feriado, mas ela não tinha que trabalhar naquele dia, estava de folga, ela tinha planos, com ele. Nada fazia sentido agora. Ele comentou algo que estava lendo, ela não prestava atenção, ele também não notou que ela não ouvira. Ela terminou o café e olhou para ele, ainda lendo o jornal e comendo um pannini de queijo e presunto, com uma mão segurava o pão e com a outra o jornal, lia e comia alheio à solidão dela.
- e então você vai para casa? Ele perguntou de repente, tomando um gole de café e olhando para ela.

- vou.
- por que?

Ela não sabia responder, porque eu quero terminar com você antes que você termine comigo, é  isso. Mas não soube dizer. Ela ia começar a contar algo sobre ir para casa ter uma conversa com a sua irmã que adiava fazia tempo, quando o celular dele tocou. Ele atendeu, era a Raquel, a sócia dele na agência, ela desviou a atenção do que eles estavam falando, algum cliente nervoso, ficou esperando ele desligar.
- olha, já que vc quer ir para casa, eu vou para a agencia, sabe como a Raquel é, ela é ótima com finanças mas não é boa quando precisa lidar com algum cliente mais estressado, é melhor mesmo e eu posso resolver isso com calma. À noite nos falamos então.

- está bem.
Ela não precisou falar, ele não parecia realmente incomodado, parecia aliviado, não... ele não estava mais ali. Se despediram dentro do metro, ela percebeu quando ele olhou a moça sentada em frente que também o notou mas o olhar dela para ele não foi de alguém que se interessava, era repreensivo e voltou à cabeça para o guia que estava lendo. Ele virou para Ela e deu um beijo de leve na boca, disse à noite eu te ligo. Ela sabia que ele não ia ligar. Ela não foi para casa, não foi para casa da irmã, perambulou por ruas e vitrines... esbarrando nas pessoas acelaradas... porque ela estava calma, muito calma.

7 comentários:

  1. Quem escreve não tem ideia de quem lê. Que seja assim!

    ResponderExcluir
  2. Essa é a parte sinistra, vejo que alguéns leram, mas não sei quem são ou o que acharam...

    ResponderExcluir
  3. Noo começo tive a impressão de um cenario medieval, de amantes da corte de um pais europeu qualquer, depois a coisa evoluiu para a decada de setenta co dois seres que apenas estavam tendo uma experencia nova, com uma certa paixão dela, isso foi até o levantar e vestir-se. Mudança de novo e ja estamos na Espanha de Almodovar, com suas cores um tanto palidas, pois o cenario é de rompimento, uma leve nuance de Woody Allen se faz na frieza dos amantes que se despedem. Muito bom , ja deu pra perceber que viajei!!!!

    ResponderExcluir
  4. A idéia é não situar em um lugar específico, nem dar nome aos personagens principais, dessa forma vc lê e situa como achar melhor. Pode ser qualquer pessoa, em qualquer lugar. Obrigada pelo feedback Sidney.

    ResponderExcluir
  5. Oi! Crítica construtiva: vc precisa melhorar um pouco a tua pontuação. É a pontuação que dá ritmo ao texto - para mim atrapalha bastante quando você esquece vírgulas e tal. E também, você pode trabalhar em usar outros sinais como travessão e dois pontos para construir as frases com mais ritmo.

    ResponderExcluir
  6. Oi, Iris agradeço as sugestões, vou procurar melhorar, na verdade não achei o travessão nesse teclado, mas dois pontos não é minha intenção mesmo. Eu só tenho jogado os textos aqui, estou trabalhando as idéias sem pretensões artísticas ou estéticas por enquanto. gostaria de saber se gostou da história tirando os erros de português.

    ResponderExcluir

Obrigada por ler meu blog, seria muito interessante e construtivo ouvir sua opinião, mesmo que doa. Fique à vontade.